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terça-feira, 29 de janeiro de 2013

A maior tragédia de nossas vidas


O poeta gaúcho Fabrício Carpinejar, grande frasista das mídias sociais, escreveu o texto que todos os bons jornalistas gostariam de ter escrito sobre a tragédia da boate Kiss, que deixou, até agora, 231 mortos num incêndio assassino. O poema foi publicado no alto da primeira página do jornal O GLOBO de hoje:


"Morri em Santa Maria hoje. Quem não morreu? Morri na Rua dos Andradas, 1925. Numa ladeira encrespada de fumaça.

A fumaça nunca foi tão negra no Rio Grande do Sul. Nunca uma nuvem foi tão nefasta.

Nem as tempestades mais mórbidas e elétricas desejam sua companhia. Seguirá sozinha, avulsa, página arrancada de um mapa.

A fumaça corrompeu o céu para sempre. O azul é cinza, anoitecemos em 27 de janeiro de 2013.

As chamas se acalmaram às 5h30, mas a morte nunca mais será controlada.

Morri porque tenho uma filha adolescente que demora a voltar para casa.

Morri porque já entrei em uma boate pensando como sairia dali em caso de incêndio.

Morri porque prefiro ficar perto do palco para ouvir melhor a banda.

Morri porque já confundi a porta de banheiro com a de emergência.

Morri porque jamais o fogo pede desculpas quando passa.

Morri porque já fui de algum jeito todos que morreram.

Morri sufocado de excesso de morte; como acordar de novo?

O prédio não aterrissou da manhã, como um avião desgovernado na pista.

A saída era uma só e o medo vinha de todos os lados.

Os adolescentes não vão acordar na hora do almoço. Não vão se lembrar de nada. Ou entender como se distanciaram de repente do futuro.

Mais de duzentos e quarenta jovens sem o último beijo da mãe, do pai, dos irmãos.

Os telefones ainda tocam no peito das vítimas estendidas no Ginásio Municipal.

As famílias ainda procuram suas crianças. As crianças universitárias estão eternamente no silencioso.

Ninguém tem coragem de atender e avisar o que aconteceu."

As palavras perderam o sentido.



Um comentário:

  1. Vim retribuir a visita e encontrei um blog maravilhoso! Parabéns! Meu marido nasceu em Santa Mariana no Paraná. Muito triste o que aconteceu no Rio Grande do Sul. É impossível ler sobre isso sem que os olhos se encham de lágrimas. Um abração

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