Por Mariana Cruz
A indisciplina dos jovens, a falta de respeito de alguns alunos diante de seus professores parece ser um sério problema na educação brasileira. Uma constatação empírica sobre a relevância de tal assunto pôde ser observada por nós, da revista Educação Pública, devido ao grande número de participantes no fórum Discutindo, cujo tema “Como se impor diante de alunos que não têm o menor respeito em sala de aula?” deu o que falar.
Alguns dos participantes do Discutindo ressaltaram a importância de demonstrar aos alunos que, além de direitos, eles têm deveres; afirmaram que os professores devem estabelecer as regras, ter pulso firme – como defende a professora Helaine Cordeiro ao dizer que, “como educadores, devemos chegar com firmeza. Deixar claro o que esperamos deles como seres humanos e como alunos. Mas deve ficar claro para eles também como vamos trabalhar e quais são nossas regras. Um acordo mútuo de relações interpessoais e didáticas é a melhor postura. Lembrando sempre que regras quebradas merecem ser punidas, tanto por eles como por nós. Os direitos e os deveres devem ser respeitados reciprocamente”.
A mesma linha de pensamento parece ser seguida por Fátima Lopes Acar Macedo, que propõe um diálogo “com autoridade, com respeito aos alunos, para que estes percebam que são respeitados, pois só se pode dar aquilo que se tem. Se o profissional se permite desrespeitar, já evidencia ao alunado sua fragilidade, deixando que eles aparentemente dominem a situação”. Aracy Aparecida Luquetti da Silva Pontes concorda com tal posição, ao defender que o professor deve “impor respeito e mostrar pra eles (os alunos) que dentro da sala de aula, como em todos os setores de uma instituição, deve haver hierarquia e que eles têm que respeitar o professor na sala e nunca dizer pra eles que se não se comportarem vamos chamar esta ou aquela pessoa, pois eles perderão o respeito por você e só respeitarão a pessoa a qual você ameaçou chamar. Levar a família até a escola é fundamental pra que haja cumplicidade, e todos juntos possam resolver os problemas de indisciplina”. Para Elvira, cabe ao professor mostrar ao aluno que “a sociedade é regida por contratos, mesmo os que não são assinados. Que o dever do aluno é sistematizar o conhecimento, com a coordenação do professor, capacitado cientificamente; se isso não ocorrer, assim como se a relação professor/aluno ficar comprometida pelo desrespeito, devemos, nós, professores, acionar o poder judiciário, tanto a nível da maioridade quanto da menoridade, pois somente assim o aluno passa a perceber o Estado de direito, passando a respeitar a instituição escolar, a qual o professor tem competência para representar”.
Maria de Fátima Pacheco faz uma descrição do que é ser um aluno portador de desvio de comportamento: é aquele que “não presta atenção nas aulas expositivas, nas aulas práticas, nas aulas teóricas, nas aulas dinâmicas, enfim, o discente que o tempo todo busca chamar a atenção do professor através de brincadeiras ou através de agressões” e diz o que pode ser feito: “devemos questioná-lo e partir do princípio de que, para motivá-lo, se faz necessário apresentar algo que o estimule a estudar; ou melhor, estaremos tratando sua autoestima; um indivíduo com déficit de estima é um indivíduo improdutivo, e para reverter este papel é obrigação de todo e qualquer profissional da área educacional trabalhar o potencial desse aluno através de um elogio, através de uma palavra de conforto moral, como: ‘Você é capaz’, ‘Você Pode vencer barreiras’ etc.; com certeza esse aluno, por pior que seja, começará a pensar em adquirir novos hábitos de conduta, e suas notas evoluirão; caso contrário, encaminhe esse aluno para um especialista em Psicologia da Educação”. Para Marilene Freire de Bulhões, deve-se “observar os elementos que atuam de acordo com essa prática e trabalhar a disciplina com textos que retratam a realidade da causa”.
Lorena Daris sugere que, logo de início, o professor deve dizer aos seus alunos a que veio; porém, além de uma postura firme, deve ser simpático: “no primeiro encontro já devemos dizer-lhes por que estamos ali, como trabalhamos, em que acreditamos, o que não é tolerado, o que pode ser negociado e como etc. Não devemos gritar e sim manter o padrão da voz; às vezes falar mais firme, mas nunca ser ríspidos, ser sempre simpáticos e gentis, procurar observar o mundo deles e sua linguagem e usar esse ponto a nosso favor, através de um plano de aula flexível”. Jorge Luiz da Silva fala do perigo que pode significar chamar a atenção do aluno, na medida em que o mundo em que ele vive é desconhecido para nós: “hoje é um pouco complicada a relação professor/aluno; não sabemos com quem estamos lidando e seus objetivos. As coordenadoras pedagógicas não cumprem seu papel de repreender e solicitar a presença dos pais; e o problema acaba sobrando para o professor. Chamar a atenção de aluno é assinar a sentença de morte”.
Luciana Teixeira Bernardo acha que, ao conhecer o ambiente em que o aluno vive, pode-se ter melhoria nessa relação; ela considera que o aluno muitas vezes faz bagunça como forma de chamar a atenção; ele “possui uma casa desestruturada, uma família sem mostrar nenhum interesse por ele. Por várias vezes esses alunos, que nas disciplinas de sala de aula são muito problemáticos, na Educação Física são os melhores; nessa disciplina eles são bons, seguros, e muitas vezes elogiados pelos professores. Não devemos entrar no jogo, devemos reverter, com muita observação, vendo o porquê dessa atitude e não nos colocando distantes do resto da turma. Quando estamos perto da turma, os próprios alunos não deixam que esse aluno tenha uma atitude ruim, eles mesmos neutralizam a atitude ruim do colega”.
Claudia França tenta compreender uma possível falta de respeito dos alunos em relação aos professores; diz que isso acontece porque eles mesmos não são respeitados; assim, a solução seria dar mais amor e dedicação. “Muitas vezes nos deparamos com alunos que não sabem respeitar os professores, os colegas de classe e nem eles mesmos. (...) Olhando esses alunos, repensamos este assunto com mais carinho e atenção. Sentimos que esses alunos sofrem porque não foram respeitados. Esse comportamento que eles demonstram serve para que o professor pense nas suas falas, nos seus gestos e na sua postura. Eles só precisam de amor e dedicação.” Cida Maria da Silva Correia também é adepta de um tratamento mais amoroso para combater a indisciplina: “acredito que, como facilitadores de aprendizagem, não precisamos ‘impor’ nada aos nossos alunos. Precisamos compreender a falta de respeito, não para justificar, mas para trabalhar uma maneira adequada de inverter o quadro. É complicado e trabalhoso; não existe receita, cada caso é um caso, cada comunidade tem seus particulares, e os alunos, suas individualidades. Precisamos utilizar meios diferentes dos de nossos alunos. Já comprovamos, histórico-socialmente, que pela força e pela violência nada se resolve” e sugere a adoção da “Pedagogia do Amor”. Antonia Elizabete dos Santos parece ser também uma adepta da mesma pedagogia, pois se refere a seus alunos como “pequenos amados”.
Mariana Santos acredita que o professor deve conquistar seus alunos: “desenvolver neles a curiosidade para depois satisfazê-los com a indução para as descobertas das respostas a essas mesmas questões. Essa é uma das maneiras que o professor deve utilizar para envolver os alunos. Não adianta tentar fazer diferente, o mundo oferece aos nossos alunos muita diversão e entretenimento, por isso a escola está perdendo feio para o mundo que há fora dos muros das escolas”. Erika Santos acha que, caso não consiga conquistar os alunos, pois é difícil agradar a todos, o professor deve tentar sinalizar o desagrado com sua conduta por alguns meios, como “conversar fora da sala, avisar a coordenação, convocar o responsável; são alguns métodos antigos que funcionam”. Mas ressalta a importância de não se desgastar emocionalmente caso tenha problemas com um aluno muito indisciplinado, “porque esse tipo de aluno quer que você desenvolva o pior dos sentimentos: o ódio, a mágoa; é quando se perdem a cabeça e a razão”.
Luiza pensa que parte do problema sobre a indisciplina está na falta de atualização dos professores, que “continuam ministrando aulas da mesma forma que seus pais receberam sua instrução. Os tempos mudaram, a velocidade da atualização é espantosa; com isso, muitos não acompanham a evolução. Por um lado, os pais nem sempre estão atualizados, muitos nem acompanham o desenvolvimento dos filhos, seja na escola ou na sua própria vida. Sequer utilizam o computador. Cria-se aí uma barreira. Nas escolas, a maioria dos professores sequer está familiarizada com as novas tecnologias, mal sabem usar as novas ferramentas que essa tecnologia traz. Daí cria-se uma lacuna entre professor, aluno, familiares. O diálogo quase não existe no seu lar, na escola assiste àquela aula sem dinamismo, sem o uso de ferramentas atuais, o professor está cada vez mais desestimulado; enfim, há que se modernizar o ensino, a forma de dar aulas, com capacitação do professorado”.
Valéria Attayde também vê nos professores algumas das causas dessa conduta indesejada dos alunos, na medida em que muitos deles não se fazem admirar; segundo ela, “respeitamos a quem admiramos, mais do que a quem amamos ou tememos. Imagine então nossas atitudes frente a quem não admiramos, não amamos e que não pode nos castigar? Esbravejar, medir forças, querer mostrar quem manda em sala de aula só serve para despertar no jovem o desejo de disputar com o professor a liderança da turma. Seja porque foi muito mimado ou porque sofreu muitas agressões e nunca teve atenção nenhuma, esse aluno só quer uma coisa: ser o centro das atenções. Ele precisa ser compreendido, mais do que ser repreendido. O aluno, ao sair de casa, independente de sua classe social, deixa o videogame, o computador, a TV e tantas outras coisas atraentes para se sentar frente a um professor, olhar para um quadro e escutar assuntos que, muitas vezes, não lhe são nem um pouco significativos. Quer tortura maior que essa? A escola de hoje enfrenta uma luta desigual com a tecnologia. E, como se isso já não fosse o suficiente, perdeu um apoio de peso na educação: a família do aluno. O trabalho na sala de aula agora é bem maior do que outrora, mas a essência do professor é a mesma. Os mestres que mais admiramos e respeitamos em nossas vidas não foram os medíocres. Também no futuro assim o será. Eu, por exemplo, sempre começo minhas aulas com um bom papo sobre algum assunto que esteja na mídia e faça parte do universo do aluno. Procuro atividades dinâmicas, lúdicas, que sejam interessantes para um jovem na faixa etária na qual esteja trabalhando. Faço com que tenham vontade de me ouvir, de estar em minha companhia. Conquisto a confiança e a admiração deles primeiro; depois vem o respeito e, consequentemente, a atenção no que tenho a ensinar. Gosto de conversar com eles, rir com eles, brincar com eles; enfim, estar com eles. E como os jovens costumam dar em dobro tudo que recebem, acredito ser esse o segredo. Respeito não pode ser imposto, tem que ser conquistado”.
Vemos, assim, que há aquele grupo adepto de uma postura mais rígida, que defende que o respeito pelos professores deve ser imposto, bem como a conscientização do aluno de que ele pertence a uma hierarquia. E há outro grupo que pensa que o respeito deve ser conquistado e que se deve tentar compreender as causas que fazem o aluno agir de forma indisciplinada.
Para finalizar, colocamos o relato da experiência pessoal bem-sucedida de dois professores diante de uma situação inicialmente complicada. Primeiro, o episódio relatado por Leonardo Sidnei Benvindo: “em dado momento, percebi que estava perdendo a turma por causa de alguns; então parei a aula e comecei falar com eles. Falei da minha origem pobre, porém com sonhos, e falei também que eu estava dando a mesma aula que dava no colégio da faculdade em que estudava e que lá os alunos pagavam a quantia que muitos ali não receberiam no final do mês. Expus uma situação para que eles questionassem o que estavam querendo ali, e se valia a pena desperdiçar o tempo deles. Disse que o mundo lá fora não se importava com eles, apenas as suas famílias, e que eles são responsáveis pelo seu sucesso, não o professor somente. O que eu vi depois disso foi uma glória para mim. Pedidos de desculpas e olhos lacrimejando. Comecei a acreditar neles e, mais que isso, vi que eles também começaram a acreditar em si próprios”.
Por fim, o caso de Jandira de Sousa Dantas: “sou assistente social, trabalhei com o Projovem em 2007/2008. Quando entramos em sala de aula, encontramos jovens que, infelizmente, convivem direta ou indiretamente com tráfico, violência e outros fatores negativos que fazem da agressividade uma forma de defesa. É importante que o educador passe a tratar estes jovens de igual para igual, sem discriminação, e que, aos poucos, possa ir mostrando para eles que na vida existem dois caminhos a seguir, que cada um deve fazer suas próprias escolhas, pois as pessoas são diferentes, e nem tudo que é bom para mim será bom para ele. Fazer o jovem pensar nas consequências dos seus atos, mostrar que, apesar das dificuldades, ele, por ser jovem, se quiser, poderá fazer diversas conquistas no decorrer de sua vida para seu próprio crescimento e benefício; basta querer. Alguns dos jovens que foram meus alunos, com o decorrer do tempo, confidenciavam para mim que eu os tratava com mais carinho do que suas mães e/ou responsáveis. A maioria desses jovens não acreditava sequer que tinha alguma aptidão profissional. Hoje encontro ex-alunos trabalhando em salão de beleza, em escolas e empresas. Faço contato por telefone com alguns deles e observo, por seus relatos, que estão em busca de um mundo melhor. Vou relatar aqui um fato que marcou muito minha iniciação em sala de aula. Tinha uma aluna, que vou chamar de M, que, quando eu entrava em sala de aula, virava de costas ou de lado, travando conversa com os colegas para atrapalhar a aula. Começava a falar do tráfico local, dizia ser avião do tráfico, ficava balançando e batendo o pé no chão e me olhava de cara feia. Eu passei a dar bom-dia à turma e me dirigia a ela perguntando como foi seu final de semana, como ela estava passando; a partir dessas simples perguntas, nosso contato foi se estreitando, passei a dar beijinhos na entrada e na saída. Com esses atos, ganhei a confiança de M e de todos de seu grupo. Ela mudou até a maneira de se vestir. Faça a diferença. Você pode”.
Tais relatos, trocas de experiências e ideias podem ser de grande utilidade para que os professores modifiquem algo que não esteja dando certo ou insistam naquilo que acreditem ser um diferencial. Tudo em prol da melhoria dessa intensa e delicada relação entre alunos e professores.
Participantes
Helaine Cordeiro
Fátima Lopes Acar Macedo
Aracy Aparecida Luquetti da Silva Pontes
Elvira
Maria de Fátima Pacheco
Marilene Freire de Bulhões
Lorena Daris
Jorge Luiz da Silva
Cida Maria da Silva Correia
Claudia França
Antonia Elizabete dos Santos
Luiza
Mariana Santos
Érika Santos
Valéria Attayde
Leonardo Sidnei Benvindo
Jandira de Sousa Dantas
Confira no blog da Valéria Attayde: http://valeriaattayde.blogspot.com
Nossa, amei esse compartilhamento de ideias sore como lidar com alunos indisciplinados. Meu nome é Juliana e sou professora de turma de 3º ano do ensino fundamental.São duas turmas dificieis e a realidade social das crianças nao são muito favoraveis e estou sem saber como lidar com alguns alunos. Estou como o Leonardo Sidnei Benvindo, perdendo toda a turma por causa de alguns. ja tentei usar o metodo da imposição de respeito, mas nada resolveu, fez foi piorar a situação. Preciso de ajuda...
ResponderExcluirDesde já agradeço. email: julygyn33@hotmail.com
muito bom esses comentários , concordei com várias atitudes e reações que devem ser tomadas na sala de aula.
ResponderExcluirconvivo com isso no meu cotidiano.
utilizo a brincadeira , o lúdico, a recompensa para lidar com uma classe indisciplinada, conquistei meus alunos e hoje continuo criando , inovando e recompensando meus alunos. eram terriveis , hoje me amam e me deram uma medalha do melhor professor da escola .....sou professor de matemática.